Um homem à frente do seu tempo, Pepe Mujica sempre trouxe o conceito de humanidade em suas falas, refletindo sobre as grandes questões de nossa era: o avanço do capitalismo, o empobrecimento da classe trabalhadora e a forma como nosso tempo foi sequestrado pelo sistema, deixando de lado o que realmente importa – a família, o autocuidado e as coisas simples da vida.  

Sua trajetória parece saída de um filme. Muito jovem, ingressou no movimento guerrilheiro Tupamaro, lutando contra a ditadura uruguaia. Preso, passou 12 anos encarcerado, sendo mais de 10 em solitária. Por sete anos, sequer teve o direito de ler um livro – algo que tanto amava e que, em parte, o moldou como o grande homem que foi.  

Após mais de uma década de prisão, foi eleito para o mais alto cargo da política institucional: a Presidência da República do Uruguai. Em dois mandatos, transformou seu país em referência global, com políticas de redução da pobreza (de 30% para menos de 10%), educação digital, sustentabilidade e integração latino-americana, casamento homoafetivo, legalização do aborto seguro e outras conquistas fundamentais para a América Latina. Tudo isso enquanto mantinha um estilo de vida austero – como ele mesmo dizia – doando a maior parte de seu salário. Mujica mostrou que outro mundo é possível – mais justo, solidário e humano.  

Ao lado de líderes como Lula, Cristina Kirchner e outros, integrou a primeira onda de governos progressistas do século XXI no continente, promovendo avanços em meio a tantas lutas.  

Após enfrentar um câncer agressivo, Pepe Mujica partiu nesta semana que passou, deixando um legado de potência, inteligência, sensibilidade e, acima de tudo, humanidade. Vá em paz, Pepe. Foi um privilégio acompanhar seus relatos, reflexões e um pedaço de sua história.  

SINDJU  

Em memória de um dos maiores lutadores do nosso tempo.