No mês da Consciência Negra, SINDJU realiza debate sobre Identidade e luta antirracista

Atividade do Coletivo Sankofa aprofunda a compreensão da identidade política e dos marcadores sociais da diferença no contexto do Judiciário

O Coletivo de Negros e Negras Sankofa, do SINDJU, promoveu no último dia 6, às 10h, uma atividade online via plataforma Teams em celebração ao Dia da Consciência Negra. O evento contou com a palestra “Ser negro: identidade política e marcadores sociais da diferença”, ministrada por Francy dos Anjos, mulher negra, de origem periférica, mãe, assistente social e palestrante. O evento discutiu a influência da identidade negra na prática profissional e na atuação política dos servidores e servidoras do Tribunal de Justiça, instituição de maioria historicamente branca.

Francy explica que, no Brasil, vivemos numa sociedade racializada. “A estrutura da sociedade brasileira é uma estrutura marcadamente racial, com sujeitos e grupos raciais que dominam e grupos raciais que são dominados”, afirmou. Ela ressaltou que essa realidade impacta diretamente o acesso a políticas públicas e a vulnerabilidade à violência e exclusão, incluindo o encarceramento em massa. A palestrante defendeu que, como trabalhadores do Judiciário, ninguém pode ser neutro numa sociedade racializada, e que o esforço para que o resultado do trabalho não seja excludente “é um esforço coletivo”, atuando nos planos individual, institucional e da luta política. Francy destacou que a força da lei por si só é insuficiente para modificar a cultura e a percepção do outro, exigindo um “exercício de abrir mão de privilégios” e de pensar o mundo de forma não etnocêntrica.

A discussão se aprofundou na compreensão da interseccionalidade (gênero, classe, raça) como essencial para o dia a dia das servidoras e dos servidores. Nesse sentido, Francy explicou que a sociedade capitalista brasileira produz desigualdades, colocando a mulher negra na base dessa pirâmide de exploração. “Sobre a mulher negra incidem inúmeras violações”, e muitas vezes elas estão à frente das famílias mais pobres e vulneráveis, em situação de extrema necessidade. A palestrante pontuou que o acesso a bens e serviços, bem como a empregos formais e seguros, também é racializado, resultando em maior informalidade e desemprego entre a população negra. Ela alertou que, como trabalhadoras e trabalhadores do Judiciário, é preciso ter um “olhar mais acurado para perceber as igualdades”, evitando reproduzir discursos estereotipados e aprofundar a exclusão.

Para Mateus Mota, diretor do SINDJU, “essa palestra foi uma necessidade que o coletivo de negros e negras do sindicato identificou, então a gente queria uma palestra para que a gente tivesse opiniões, sair de um ponto de partida em comum”, explicou. Mota classificou a palestra como “muito explicativa”, pois conseguiu resgatar fatos históricos cruéis sobre o fim da escravidão no Brasil, que deixou a população negra sem políticas públicas de inclusão, criando um ponto de partida desigual. Ele enfatizou a fala da palestrante sobre o silenciamento histórico do negro e a falácia de que o Brasil não tem racismo. “É um tema doloroso ainda. É um tema que quando é bem compreendido a gente percebe quanto foi cruel essa política de silenciamento da população negra”, concluiu Mota, ressaltando a emoção que o tema ainda provoca.

O SINDJU, por meio de seu Coletivo de Negros e Negras Sankofa, reforça seu compromisso com a promoção da igualdade racial e a valorização da identidade negra no ambiente de trabalho do Judiciário. A entidade reafirma a importância de ações formativas e de debate para combater o racismo estrutural e garantir que as pautas da população negra sejam compreendidas e integradas na luta por um serviço público mais justo e representativo. Juntos somos gigantes.

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